Amada Bandeirinha,
Hoje me parece um dia
especial para escrever à você. Sinto muito não poder estar com
você como tanto gostaria, mas tentarei lhe fazer sorrir da maneira
que melhor me couber.
Posso ser sincero?
Desde que você se foi de mim, sinto que o tempo quer te alcançar,
mas não alcança e eu fico aqui, com a inútil intenção de ser
feliz. Lembro-me de tantas coisas, são tantas lembranças
enclausuradas como pérolas em ostras no fundo do oceano. Oceano de
beijos seus. Não tínhamos rosto, Bandeirinha. Não tínhamos ordem,
muito menos direção. Você dançava pra lá e pra cá como bem
queria, quem mandava no vento era você, mandava nos olhares dos que
nos viam, mandava até em mim, que era teu suporte. Você não
imagina o quanto fico feliz ao imaginar todas as direções que você
pode estar voando nesse momento, poderia até pegar carona com alguma
daquelas máquinas voadoras que nunca lembro o nome. Mas lembro-me
muito bem dessa sua liberdade toda, muito marcante, afinal. Tudo era
muito marcante em você, seu toque macio, seus lábios escorregando
entre minhas têmporas, nosso suor se entrelaçava como uma dança de
fios de cabelo. Era tudo tão bom... E ainda é, na minha mente.
Te quero aqui,
Bandeirinha. Nem que seja só de passagem, só de visita, poucos
minutos. Tudo serve, tudo é válido. Meu desespero em te ter aqui só
aumenta, esperar pelo incerto é tão difícil, tão angustiante...
Mas sei que valerá cada segundo.
Quebro-me. Palavras
aveludadas ecoam em meus ouvidos: “cheguei tarde demais”.
Mastro velho sempre teu.
O6 de Janeiro de 2O12